quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Amizade podada

Bernardo. Esse era o nome do menino que tinha uma tesoura como sua melhor amiga. Tudo, porém, mudou. Bernardo não sabia que essa amizade seria alterada pelo resto de sua vida. Assim, o inesperado aconteceu.

Ao amolar a tesoura, aquela noite que parecia ser apenas mais uma acabou se mostrando uma noite estrelada. Bernardo amolava a amiga com força e tesão, demostrando sua ira de apaixonado. A tesoura, entretanto, gritava. Cada faísca jorrava como uma lágrima. O esfrega-esfrega na pedra de amolar, tornava, a cada segundo, mais tensa a amizade.

De repente, um grito. Dessa vez, não era da tesoura. Um “ai” ecoou com uma infinidade de vogais. Depois, uma outra palavrinha – um palavrão. O porão agora era preenchido por suspiros ofegantes. Ao amolar a faca, o menino aplicara demasiada força que assassinou a amiga – essa reagiu provocando um grande corte em sua pequena mão.

No meio de tanto sangue e calor, Bernardo tentava se concentrar na dor, que parecia dominar todo o seu corpo. O sangue começou a se envergonhar. O menino impedia que mais líquido se propagasse apertando a mão ensanguentada contra a mão ilesa. Até que o sangue parou de mostrar as caras.

A tesoura, morta, não dizia nenhuma palavra – o que provocou em Bernardo a fixação do silêncio. O menino perguntava o porquê daquilo tudo, o porquê da agressão da amiga. Sentado no chão empoeirado, avistou uma folha que parecia ser a única testemunha do crime que cometera. Então o menino fechou os olhos e entendeu que aquela folha só estava deitada no chão por sua causa.

A folha tinha uma vida normal e saudável fincada na sua mãe árvore. Agora, em vez de pássaros e frutos, via poeira. Bernardo, por mais incrível que isso soe, enxergava o flashback da folha – parecia que a verdinha sussurava palavras em seu ouvido e projetava imagens na sua mente.

Ao abrir os olhos, Bernardo parecia ter acordado de um grande sonho. Mas percebeu que tudo era verdade: a tesoura estava quebrada, sua mão cortada e a folha empoeirada. Decidiu sair daquele ambiente criminoso, decidiu sair daquela vida. Ao deixar o porão e subir as escadas, Bernardo viu uma grande árvore podada através da janela da sala. Enquanto fitava-a, dizia que queria uma amizade com ela, uma amizade que não fosse podada e sim florida. Florida e folheada.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bom - mais um lugar pra eu vir!!! Agradeço por compartilhar, ainda mais por ler um texto tão verdadeiro.

Beijo,
Nanda

Unknown disse...

Complicado.

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