terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Mais do mesmo

Eu gosto de almoçar assim: em silêncio. Quase nunca meu desejo se realiza; a televisão grita no pé do meu ouvido, o telefone torra as últimas gramas da minha paciência. Mas, eu continuo comendo.

Acordo teoricamente às cinco mas só toco o chão gelado às seis e quinze. Assim, mantenho meu saudável atraso. Não sinto o gosto da manteiga amarelando o pão, nem do leite do queijo: escovo os dentes e corro para o coletivo.

Nesse outro mundo, velhas notícias. Vendedores anunciam suas ofertas e nós, sentados, ouvimos. O cobrador namora os minutos no seu relógio de ponteiros. Eu olho as ruas. Uns dormem. Depois de um tempo, todos contribuem para o silêncio.

Na empresa, inicio com o velho “bom dia”. Poderia propor uma indagação, cultivar uma indagação… Não. Fico com a afirmação, com a falsa constatação. Assim é mais fácil, mais acessível; poucos são os que estão preparados ou dispostos a novas palavras, a surpresas, a mudanças – Bom dia.

Metade do expediente. Sou atraído ao refeitório e acompanho centenas de “colegas”. Entro na fila; apanho o purê fantasiado de gosma, o arroz quase cru e uma concha de feijão, que só com meu olhar, fica mais azedo ainda.

Sento na grande mesa. Velha amiga… Tiro o celular, coloco em cima da mesa. A televisão ecoa um monólogo, alguns conversam, todos comem. Começo a comer e a cada garfada penso: amanhã terei mais, do mesmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Os Paralamas Do Sucesso - O Caminho Pisado

Da cama pro banho, do banho prá sala
O sono persiste, o sol já não tarda
A vida insiste em servir um velho ritual
Que sempre serve a tantos outros
O mesmo pão servido aos poucos
Se senta e abre o jornal
Tudo parece normal
Um dia a menos, um crime a mais
No fundo no fundo no fundo tanto faz
Já é hora de servir o velho paletó surrado
E caminhar sobre o caminho pisado
Que conduz rumo à batalha que
inicia a cada dia
Conseguir um lugar p'rá sentar e
sonhar no lotação
E é tudo igual, igual, igual...

No fim dos dias úteis há os dias inúteis
Que não bastam p'rá lembrar ou
p'rá esquecer de quem se é
O ar pesado nesse bairro pesado em
plena barra pesada
A mão pesada vem oferecer
E conta os trocados contando vantagem
E toma uma bola, começa a viagem
E enquanto não chega a velha hora
Que inicia a cada dia
Em várias partes da cidade, por
lazer ou rebeldia
A mão pesada se abrirá
Oferecendo a garantia barata de
que tudo vai mudar
E é tudo igual, igual, igual...

Nós

Minha foto
18 anos, soteropolitano e feliz.

Entraram