MENINO - Que bom que você veio, precisava te ver!
MENINA - Por acaso pensava que'u não vinha? Esquecei que você é meu amigo, que te prometi aquilo tudo?
MENINO (Um pouco sem jeito) - Não, não foi isso que eu pensei... É que, sei lá... Às vezes não tenho certeza das minhas próprias certezas...
(Curta pausa. O menino desvia o olhar da menina)
MENINA - Pois... Pois tenha certeza! (Prestativa) Sempre estarei aqui pro que você precisar!
MENINO (Sorrindo) - Obrigado, você é minha única amiga.
MENINA - Pois então, que eu seja a sua MELHOR amiga!
(Os dois trocam sorrisos)
MENINA - Vem cá, por que você estava triste antes d`eu chegar?
MENINO (Disfarçando) - Eu não tava triste, eu só tava...
MENINA - Ei, será que você ainda não percebeu que eu sou sua amiga, que eu sei quando você não tá legal?
MENINO - Hum...
MENINA - Então? O que você me diz?
MENINO - Eu tinha voltado pra casa, mas, não tinha ninguém lá... Fui até a cozinha; (Empolgado) o biscoito de caramelo que eu mais amo tava na minha frente! Comecei a comer, estava muito feliz! (Desestimulado) De repente, minha mãe entrou na cozinha... Eu não percebi sua presença, só quando ela começou a gritar, tentando me bater. Ela gritava sobre os biscoitos, me chamava pelo nome todo, toda enfurecida... (Decepcionado) Ela nem disse que sentiu minha falta, que eu precisava tomar banho...
MENINA (Contempla o sofrimento do menino; reage desconsertada) - ... Ei! Olha só! (Abre a merendeira e tira um biscoito) Eu também gosto de biscoito de caramelo! (O menino corre em sua direção, pára na frente da menina) Não estava com vontade de comer no recreio, você quer?
MENINO (Responde com um grande sorriso, continua a responder) - Você é mesmo a minha melhor amiga! (Abraça a menina, que revela surpresa. A menina acaba respondendo, fortalecendo o abraço e fechando os olhos)
MENINO - Vem comigo! (Arrasta a menina pelas mãos, saem correndo juntos. Chegam até o local desejado; a iluminação verde se apossa do palco sugerindo um liso e grande gramado)
MENINO - Eu amo esse lugar. Daqui a gente pode ver as nuvens bem melhor. Você gosta de ver as nuvens?
MENINA - Quem não gosta? Eu amo ver as nuvens!
(O menino deita na grama, conduzindo a menina a fazer o mesmo)
MENINA - Nossa... A gente realmente vê as nuvens muito melhor daqui!
(Começam a surgir grandes nuvens brancas, exatamente como as crianças vão dizendo, que desfilam céu afora)
MENINA - Você está vendo? É um ursinho! Que lindo!
MENINO - Sim! Ele é realmente bonito! E engraçadinho...
(Sorriem juntos)
MENINA - Que legal! Tem um cavalinho, também!
MENINO - Sim!
MENINA - E um porquinho!
MENINO - E uma tartaruga!
MENINA - E um coelhinho! (Ri) Que legal!
(Pausa curta)
MENINO - Tem um jacaré ali, também!
MENINA (Senta. Debochada) - Jacaré?
MENINO (Sem graça) - É... Ali, um jacaré...
MENINA (Convicta) - Impossível.
MENINO (Ainda sem graça) - Impossível?
MENINA - Sim, impossível. Ninguém colocaria um bicho tão feio, grande e feroz perto de animais tão bonitinhos e legais! (Começa a deitar de volta)
MENINO (Desconsertado, tentando mostrar firmeza na sua resposta) - Ah, é mesmo! Como eu pude me esquecer! Jacaré...
(Pausa curta)
MENINO - E agora, que animal você vê?
MENINA - Não consigo ver direito...
MENINO - É... Nem eu.
(O menino se dá conta que a menina está, na verdade, observando-o. Fica um pouco nervoso. Olha para a menina. Os dois se olham fixamente. Com uma fúria serena se beijam, ingenuamente. As luzes se apagam)